31.3.06

Osasco, 5 da manhã.

A fábrica está funcionando. As luzes estão acesas e o som é inconfundível, uma batida ritmada, é como naqueles filmes antigos que mostravam o futuro. Aparentemente não tem ninguém lá dentro, também não há carros. Apenas as máquinas funcionando.

O movimento de pessoas na rua está começando agora. O comércio próximo à estação de trem ainda está fechado. Apenas uma padaria e uma barraquinha improvisada na calçada estão funcionando.

No trem até a Barra Funda, o vagão está cheio. Os passageiros sofrem com os trancos provocados pelo trilho irregular. Os olhares são tristes, nenhum sorriso, nenhuma conversa. Alguns ficam sentados no chão, encostados nos cantos, com a cabeça baixa. Não acredito que seja possível dormir naquela posição. Também não é fácil ficar em pé, são poucos os lugares para se segurar. Aqueles que conseguiram um lugar nos bancos também estão com a cabeça baixa.

Os passageiros têm que estar muito atentos, quase não existe sinalização nas estações. Uma voz no alto falante tenta dar a informação, mas não consegue, ouve-se apenas um chiado: “Estação ---------”.

30.3.06

E o Brasil foi para o espaço

Ontem decolou a nave Soyuz TMA-8, que leva o astronauta brasileiro Marcos César Pontes para a Estação Espacial Internacional, que gira em uma órbita a 350 km da Terra. A estada de Pontes vai durar 8 dias, mais 2 para a viagem. Foram gastos quase 11 milhões de dólares de investimento para pagar a “passagem” até a estação.

Durante a missão, vão ser realizados 8 experimentos selecionados entre 50 propostas de Universidades e outras instituições de pesquisa brasileiras. Um deles é para descobrir o que acontece quando se planta uma semente de feijão sem o efeito da gravidade. É aquela velha experiência do feijãozinho no algodão realizada no espaço. A experiência vai ser realizada ao mesmo tempo em escolas aqui na terra. O objetivo é estimular os alunos na prática da ciência.

Não que não seja um bom motivo e que os outros experimentos também não tenham o seu valor, mas creio que cabe a pergunta: será que vale a pena gastar 10 milhões de dólares para isso? Mesmo com toda argumentação pelo orgulho nacional de ter um brasileiro no espaço, ainda não estou convencido da importância desta viagem. O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ennio Candotti também defende a idéia de que esses recursos poderiam ser investidos em outras áreas de ciência e tecnologia.

29.3.06

Com marcação forte, Lyon e Milan não saem do 0 a 0.

Em um jogo equilibrado, duas das principais equipes européias não passaram de um empate em 0 a 0, na partida disputada pelas quartas de final da Copa dos Campeões da Europa. A disputa entre Lyon e Milan foi no Estádio Gerland, em Lyon. O time que vai disputar as semifinais será definido somente na próxima terça feira, em Milão.

Mesmo fora de casa, a equipe italiana pressionou muito no primeiro tempo, mas não conseguiu vencer o esquema defensivo dos franceses. Com um toque de bola preciso no meio campo e a boa presença de Kaká e Schevchenko no ataque, o Milan criou chances claras de gol, mas foi barrado pela forte marcação dos zagueiros Cris e Cláudio Caçapa. O goleiro Coupet também foi fundamental para segurar o ataque milanês.

Sem Juninho Pernambucano, suspenso, o Lyon jogou recuado em quase todo o primeiro tempo. Mesmo apoiado pela torcida que lotava o estádio, o time apostou nos contra ataques para abrir o placar, mas apenas em cobranças de falta levou perigo ao goleiro Dida.

No segundo tempo, a situação se inverteu, os franceses souberam aproveitar o apoio da torcida e foram ao ataque. O time de Milão, que não tinha mais a mesma energia do primeiro tempo, ficou a maior parte da segunda etapa acuado em seu campo de defesa. Mesmo com a pressão e com a entrada do atacante Fred, no lugar de Carew, o Lyon também não foi capaz de vencer o goleiro Dida, que voltou a fazer uma boa apresentação.

(texto produzido para o Curso de Jornalismo Esportivo do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo)

28.3.06

Caiu o Palocci

Antônio Palocci, do Partido dos Trabalhadores, foi o último a sucumbir diante de uma sociedade estarrecida com a situação do atual governo. O ex-ministro da Fazenda deixa o cargo sob suspeita de corrupção durante sua gestão na prefeitura de Ribeirão Preto. Em seu lugar, entra Guido Mantega, ex-presidente do BNDES, que promete apenas fazer mais do mesmo.

As acusações contra Palocci se tornaram incontornáveis (apesar das tentativas do governo) depois de o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, assumir a quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa e afirmar que entrgou os documentos confidenciais diretamente à Palocci. Jorge Mattoso pediu demissão e deve ser indiciado pela Polícia Federal, assim como o ex-ministro.

Na tentativa de incriminar o caseiro, Palocci acabou provocando sua própria queda. O ex-ministro foi acusado por Francenildo de freqüentar uma casa, em Brasília, onde supostamente ocorria a formação de lobby com objetivo de beneficiar empreiteiras ligadas à prefeitura. O governo passou então a investigar o caseiro, na tentativa de acusá-lo de ter recebido dinheiro para depor contra o ainda ministro da Fazenda. A ação para desmoralizar Francenildo serviu apenas para decretar a queda do último homem forte do governo Lula. Antes dele, José Dirceu e Luiz Gushiken já haviam perdido seus cargos devido ao envolvimento em acusações de corrupção.

Este é provavelmente o fim da carreira política do médico Antônio Palocci, que comandou a política econômica do governo Lula desde a campanha em 2002. Sem levar as críticas, inclusive de aliados, em consideração, Palocci manteve uma política econômica de juros altos que acabou por beneficiar os bancos em prejuízo dos trabalhadores, tão defendido durante a história de seu partido.

(texto enviado para a Folha de S. Paulo, com o objetivo de conseguir uma vaga oferecida no caderno Folha Ribeirão)

27.3.06

Eu estava sentado na esquina da Paulista com a Peixoto Gomide, eram 6 e meia da tarde. As janelas do MASP refletiam a luz, que tinha um tom arroxeado, e me faziam lembrar do céu de Londrina. Á frente, um pequeno e antigo prédio me chamava a atenção. Gostaria de morar nele. Parecia que não morava ninguém, talvez estivesse condenado. Apenas uma luz suave na portaria demonstrava algum sinal de vida.

Em frente ao prédio, quando os carros paravam no semáforo, um homem saia correndo e colocava saquinhos de bala pendurados nos retrovisores. Ele percorria a distância precisa de 10 carros, deixando tempo suficiente para voltar e pegar de volta os saquinhos. Ou algum dinheiro, em média 1 pessoa por corrida comprava as balas.