22.6.07

Solução verde

Leve, resistente e socialmente responsável, polpa termo-formada pode ser alternativa ao desenvolvimento de cartuchos para embalagens. Não fosse o custo, ainda mais alto do que as opções tradicionais.

Não é de hoje que as questões sócio-ambientais caminham de mãos dadas com os projetos de embalagens. No entanto, o alto custo demandado por soluções biorresponsáveis sempre inviabilizou a aplicação das descobertas. E isso tanto por aqui, no Brasil, quanto no exterior. O maior empecilho diz respeito à escala de produção. Existem opções de resinas ecologicamente responsáveis. O que falta é consumo.

Contudo, essa desproporção começa a cair por terra. Principalmente no mercado de cosméticos, um negócio dos mais disputados. Onde pequenos diferencias pesam em muito a favor. E não estranha que seja justamente as embalagens de shampoos, cremes para o corpo e maquiagens as prováveis vitrines para alternativas corretas do ponto de vista ambiental. É o caso da polpa termo-formado, que dentro em breve, afirmam seus inventores, estará por ai, nas gôndolas de perfumarias, farmácias ou supermercados. Ou nos catálogos de venda-direta, claro.

Com cara e aplicações novas
Longe de ser uma novidade, essa idéia é conhecida há mais de cinqüenta anos. Chamada de polpa-moldada, sempre foi utilizada na confecção de caixas de ovos. Acontece que passou o tempo, novas tecnologias chegaram para integrar o processo de sua fabricação e o material mudou muito. Não somente de nome. Mas de características. Em nova fase, hoje em dia, ela pode substituir praticamente qualquer material empregado pela indústria de embalagem.

“A polpa moldada [das caixas de ovos], oferece poucas alternativas de design e uma baixa resistência, além de não apresentar boas opções de acabamento. Para solucionar esses problemas é que foi desenvolvida a variante termo-formada”, conta o empresário Sérgio Petl, sócio da Bio-embalagens e um dos entusiastas da alternativa no Brasil. O industrial importou o processo de produção da Ásia. Viajou até a Coréia do Sul em 2004 e bateu o martelo pela aquisição do sistema, num investimento de US$ 12 milhões. Mesmo resguardado por um contrato de exclusividade de três anos, o nome do fabricante coreano é guardado sobre sigilo. “Até chegar aqui, estou num trabalho de quinze anos, analisando processos, tecnologias e fornecedores. Visitei fábricas na Europa, Hong Kong e Taiwan até acertar na Coréia”, justifica-se.

O maquinário utilizado na produção compreende três cabeçotes. Quanto à polpa, sem empregar nenhum tipo de fibra virgem, ela é toda composta por insumos pós-consumo – basicamente jornal e papelão. A primeira fase ocorre dentro de um liquidificador, onde o papel e o papelão são batidos, e se transformam numa espécie de mingau. Em seguida, a máquina molda, prensa e seca, tudo no mesmo processo. Na finalização, o material é aquecido a uma temperatura de 300°C. Esse é o “pulo do gato”, responsável pela alta resistência do produto. “Somente utilizamos energia elétrica, água e papel”, explica Petl.

Instalada no Espírito Santo no ano passado, a Bioembalagens produz, atualmente, os suportes para impressoras da HP (Hewlett Packard). Em pouco tempo, porém, terá boa parte de seu parque industrial comprometido com o fornecimento de cartuchos para uma linha de cosméticos nacional. “Temos um acordo formal que impossibilita citar o nome da empresa ou da linha. Mas deve estar pronto em breve”, garante Petl, para quem “o ramo de cosméticos é a menina dos olhos”.

Vantagens e desvantagem
O primeiro ponto que pesa a favor da polpa termo-formada é o impacto ambiental. Enquanto o plástico leva mais de 400 anos para se decompor na natureza, a polpa se desfaz por volta de 45 após ser lançada ao meio-ambiente. O transporte e o armazenamento também podem ser facilitados. Com relação ao isopor, a polpa oferece 80% de diminuição de volume de estoque.

A principal desvantagem ainda está no custo. Uma caixa entre 10 e 15 centímetros sai em média por 15 centavos, incluídos o projeto e os impostos – esse valor pode variar de acordo com outras especificações do modelo. “Nosso custo final acaba com uma diferença de cerca de 3 ou 4 centavos para as matérias primas tradicionais. Apesar de ser reciclável, nosso produto não precisa ser necessariamente mais barato, para você separar a matéria prima no mercado, transformar, aplicar a tecnologia, tudo isso tem um custo”, conta o sócio da Bioembalagens.

Mercado Internacional
Em outros países, a polpa termo-formada já está em pleno vapor. Países como Japão e Alemanha possuem leis que restringem o uso do isopor e de outros materiais plásticos em suas fronteiras. Além disso, o aspecto cultural nesses países valoriza a questão ecológica. Isso cria um aumento na demanda por parte do consumidor e uma aceitação maior da indústria para as embalagens recicláveis.

Na Europa, por exemplo, é comum encontrar a polpa termo-formada em diferentes aplicações, em especial na indústria de cosméticos. Em 2001, a Yves Saint Laurent lançou o eau de toilet Vice-Versa (fora de linha hoje em dia), com cartucho da embalagem feita da polpa. Mais recentemente, em 2003, a Aveda lançou o Uruku, um batom que usava a polpa na embalagem e que se tornou modelo de produto feito com material pós-consumo.
Matéria publicada na edição nº 66 da Revista 'Packing Cosmética' em abril deste ano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olah meu nome é Igor Duarte.
Estou impressionado com seus conhecimentos sobre o assunto.(bio embalagens).
Sou do sebrae e estou muito interessado em mais informações sobre tais embalagens. Se possivel quero estar ciente de novas postagens sobre o assunto.

email:igornba@hotmail.com

Grato.